Nota do editor: Este texto foi originalmente publicado no blog do Francisco Velasco aos 25/10/2010 e com aditamentos em Abril de 2013 e Outurbro 2014. Partilhado aqui em homenagem ao Antônio Trindade. Até sempre
O ano de 1949 foi de facto pródigo no lançamento de figuras do desporto que eventualmente registaram carreiras brilhantes no futuro. A visita da Selecção Nacional, Campeã do Mundo, convidada para a inauguração do primeiro rinque de Patinagem e de Hóquei em Patins do Grupo Desportivo de Lourenço Marques, funcionou como um talismã para os jovens que proliferavam pelos clubes da cidade, em especial os do SNECI.
No prefácio deste Site, a propósito desse evento, coloquei uma fotografia onde aparecem as equipas que iam defrontar-se, a Selecção Nacional e a equipa do Sindicato. Dela fui repescar o Marciano Nicanor da Silva, o guarda-redes pequenino que lá aparece, transformado no David da história já relatada, na categoria “Da Cartola”.
Seria injusto da minha parte, não extrair dessa mesma fotografia, o António de Castro Trindade e prestar-lhe a minha homenagem pelo que alcançou na sua extraordinária carreira desportiva e que com prazer descrevo nesta página.
Vou procurar seguir fielmente os dados fornecidos a meu pedido. Eles, por si, revelarão o extraordinário percurso dum atleta que foi meu companheiro de Hóquei em Patins, (e com futuro), mas que bem cedo trocou a modalidade pelo Ténis, pelo Ténis de mesa e Xadrez. Todos nós, os mais virados para a Patinagem, sentávamo-nos por vezes nas esplanadas e assistíamos aos seus treinos que, com uma frequência semanal elevada, eram orientados e estimulados pelo seu Pai e treinador. A persistência desse trabalho árduo, foram sementes que deram frutos saborosos.
Nasci em 29 de Setembro de 1933 e a minha actividade desportiva teve início, a sério, em 1949 e prolongou-se até 1974.
Fui Campeão de Moçambique: 15 títulos seguidos (1959 a 1974); Campeão de Lourenço Marques: 19 títulos (13 seguidos); Campeão de 1ªs Categorias (havia 2ªs e 3ªs categorias): 15 títulos (9 seguidos).
Venci 198 torneios: 2 Internacionais; 15 pares-homens; 8 pares-mixtos. Obtive também vitórias importantes sobre o campeão da Nigéria e da Rodésia e, em pares-homens derrotei na final o nº 3 e nº 5 da África do Sul. Venci um total de 272 provas.
Ténis de Mesa – Campeão: 11 títulos; torneios: 115; equipas: 10.
Hóquei em Patins – Atleta do SNECI com uma passagem de 1 ano pelo Sporting Clube de LM.
A equipa do SNECI: Nicanor (Moreira), António Souto, José Souto, Velasco (um jogador aparte) e Trindade, que venceu vários torneios. Antes de esta equipa surgir, joguei contra os Campeões do Mundo, a célebre formação que inaugurou o rinque do Grupo Desportivo de LM.
Só joguei um ano – Fui Campeão de Principiantes; Vice-campeão de 3ªs Categorias; Vice-campeão de 2ªs Categorias e 14º lugar em 1ªs Categorias.
Ténis de mesa – Veteranos – Várias vezes Campeão Nacional por equipas, pela Casa Pia e vencedor de alguns torneios do Inatel. Venci 3 ex-Campeões Nacionais, respectivamente do Benfica e do Sporting. Joguei durante 6 anos, (e nunca consegui vencer o Louro).
Ténis 1986 a 2009 – Depois de uma interrupção de 12 anos, voltei a jogar com 53 anos de idade em Veteranos, só entrando em competição aos 55: -7 vezes como nº 1, Round +55; 10 títulos Nacionais (5 em +55, 2 em +60 e 3 em +70; 7 títulos Nacionais em +45 pelo Belenenses; 1 título Nacional em +55, pelo Clube de Ténis de Espinho: 2 Torneios Internacionais em +55, no Algarve, no seguinte total de torneios: 131 (31 em +45; 99 em +55 e 1 em +60).
Torneio Internacional Copa Ibérica (I.T.F.) – (Jogadores de várias partes do mundo).
Singulares – 12 títulos. Esta prova é feita em 3 etapas, Lisboa, Espanha e Algarve. Para vencer um título o mínimo duas vitórias e como tive ocasião de vencer algumas 3 etapas, obtive 28 vitórias.
Pares-homens – 7 títulos (14 vitórias), um total de 42 vitórias; A partir de 2003, realizaram-se 5 Masters, tendo vencido 4.
Casos invulgares – Circuito das Termas: 8 vezes, vencedor. Esta prova durou 8 anos e comecei a jogar com 63 anos no escalão +55; Masters do Circuito: venci 4 vezes em 8; Covilhã; torneio muito forte, em 20 anos, venci 16; vitórias importantes: no escalão +60, derrotei o 15º do Mundo, no escalão +65, o 7º do Mundo e vitórias sobre os campeões de Espanha e da selecção do mesmo país, nos +55, +60, +65 e +70.
Inédito – Com 63 anos e até aos 70, mantive-me dentro dos 3 primeiros lugares do Rank; com 64, nº 8 do Rank +45; com 68, nº2 no Rank +65 e +50; com 70, nº3 no Rank +55; com 68 anos, fui vencedor das Termas +55, do Masters +55, da Covilhã +55, da Copa Ibérica +65 (Lisboa, Espanha e Algarve). Fiz um trik e venci o Masters; com 69 anos, em 30 provas fui a 29 finais, com 13 vitórias e 16 segundos lugares; com 74 anos, na Copa Ibérica, no escalão +70 (ano 2008), fiz um trik mais o Masters. A partir dos 74 até agora, continuo a vencer no escalão +70. Num total de provas, incluindo equipas Nacionais e Internacionais, venci 297 provas até este momento.
Nota final – Em 2008, no Algarve, no escalão +70 (74 anos) na final, consegui uma grande vitória sobre um jogador americano, com o jogo praticamente perdido. Perdi a primeira partida por 7-5, quando vencia por 5-3. Na segunda, a perder por 6-5 e 30 a nada, ganhei por 7-6. No “super tie-break”, a perder por 8-4, acabei por vencer por 10-8.
Não quero ficar de fora desta história, sem dizer que eu e o Trindade, entre a malta do SNECI, e por outros lados, não tínhamos adversários à altura no Ténis de Mesa e que, quando nos enfrentávamos, parava tudo no salão de jogos para apreciar. Diga-se de passagem que me ganhava mais vezes do que eu a ele.
A Secção de Ténis de Mesa do SNECI organizou-se a certa altura para participar num mega Torneio realizado no Salão ginásio do Clube Ferroviário, com a inscrição de umas dezenas largas de equipas. Os dois dirigentes da Secção, muito mais idosos que eu e o Trindade, em vez de nos emparceirar, formaram duas equipas, cada um deles acoplando-se a um de nós. Claro que naquela altura, o que desejávamos era jogar e não nos apercebemos da má estratégia utilizada. Como consequência, tanto eu como o Trindade tínhamos de ganhar os nossos jogos, pois os nossos parceiros perdiam os deles, e fazer um esforço titânico, para vencer as partidas de desempate, a pares, a fim de prosseguirmos. Como era de esperar, resistimos o máximo na progressão, tendo as duas equipas eventualmente sido eliminadas. Ganhou a equipa do Ferroviário, que integrava o Campeão da modalidade, Trigo de Morais, um verdadeiro artista de se ver. Pelo caminho, se não estou a sonhar, ainda bati o 3º ou 4º classificado de Inglaterra, um técnico inglês, na altura a trabalhar para o Rádio Clube de Moçambique, cuja equipa entrou no torneio.
Deixei de jogar Ténis de Mesa quando o Trindade apareceu no clube, agora muito dedicado à modalidade de que se tornou campeão, para treinar comigo, trazendo umas raquetes de esponja japonesas, novidade na altura. Este avanço tecnológico, eliminou a sonoridade da raquete de lixa, de decibéis elevados, à qual estava formatado, e deixando de achar graça às bolas que vinham do outro lado da mesa, como mísseis silenciosos. Desinteressei-me da modalidade que contudo, sempre achei benéfica para o desenvolvimento de reacções rápidas, cujo efeito se reflectia na prática do Hóquei em Patins.
Quanto ao Ténis tradicional, comecei a praticá-lo regularmente aos 42 anos de idade, no Ellis Park de Johannesburg, com vários amigos e o Carlos Garcez, destacando este último pela simples razão que se assumiu como meu treinador. Graças a ele e ao meu entusiasmo e espírito competitivo, evoluí de tal forma que o derrotei no único torneio realizado a sério, entre uma vintena de participantes, com ele a justificar-se de um qualquer impedimento relacionado com o “tennis elbow”. Regozijei na altura, apesar de também ter sido eliminado e animei-o, dizendo-lhe: – “Queres maior glória do que seres batido pelo teu aluno”?
Quanto ao “ping-pong“, continuei a praticá-lo por esta altura, agora com os meus amigos António (Toninho) Rodrigues, António Carlos e, inclusivamente, o meu professor de Ténis Carlos Garcês, quando, todas as sextas-feiras, à noite, passeávamos por Hillbrow.
De regresso a Moçambique, em 1978, nos mesmos courts do Jardim Vasco da Gama, onde o António Trindade ganhava sistematicamente ao seu eterno rival, professor Prata Dias, venci um torneio de 2ªs Categorias, em que participaram bastantes tenistas locais e estrangeiros da Cooperação, tendo inclusivamente sido convidado a integrar-me na categoria superior, a dos “Trutas”, que jogavam nos “courts” mais abaixo, onde as coisas não eram nada fáceis.
Infelizmente, o acidente que me vitimou, interrompeu a minha “mais que evidente carreira gloriosa” nestas novas andanças do ténis, o que lamento, pois gostaria de estar hoje a apanhar umas valentes tareias do meu companheiro e amigo António Trindade, o Campioníssimo.
Num aditamento a esta peça publicada em 25 de Outubro de 2010, venho hoje, 16 de Abril de 2013, adicionar novos feitos que nesse interim foram realizados pelo Trindade, que pelos vistos continua imparável!
Campeonato Nacional +70 3 títulos
1 Copa Ibérica +70 e 1 Copa Ibérica +75
1 Master + 70 e 1 Master +75
1 Pares homem +65
2 Torneios itf +70
2 Torneios normais
1 Copa Ibérica +75, ganha em Março 2013
1 Internacional Open Catanhede itf +65, Outubro 2013
Mais um aditamento. Este nosso amigo Trindade soma e segue e faz-me desejar que comece a perder pois não quero passar o resto da minha vida a abrir esta página para adicionar as suas proezas. Pelo andar da carroça, e pela amizade de antigamente, abrirei uma excepção e anotarei as suas vitórias, o máximo, até às provas +90, se eu lá chegar…
Outubro 2014
Campeão Nacional de Veteranos +70
Vice Campeão Pares +65 … (Se calhar o parceiro era um aselha!!!)